segunda-feira, 6 de abril de 2009

Associação Amigos de S. Cristóvão aposta em actividades de contacto com a natureza*

Criada há quatro anos, esta associação, além da promoção de actividades de convívio, pretende tirar partido da situação privilegiada da freguesia de Felgueiras, que se estende pelas encostas e planuras de S. Cristóvão, e do seu rico património paisagístico, cultural e arqueológico, disponibilizando e apoiando percursos pedestres e outras iniciativas, como passeios motorizados.

Amigo de S. Cristóvão/Nota pessoal

É um local de fascínio. Como miradouro pede meças aos seus congéneres da região. Os seus horizontes deslumbrantes aprisionam a imaginação mais ousada e libertam o espírito para a infinitude. Só aqui se distinguem melodias inaudíveis e se ouvem os silêncios longínquos do firmamento.

Subi a este monte vezes sem conta. A maioria para contemplar os sempre indescritíveis espectáculos do pôr do sol, muitas para divisar o panorama sempre irrepetível daquém e dalém Douro, várias para perscrutar a proximidade das estrelas e algumas para assistir à magia do nascer do sol.

O percurso era feito a pé, por carreiros, pelos caminhos de carros de bois e a corta-mato. Era uma oportunidade para ver manadas de gado a pastar, ouvir o chiar dos carros com feno, vindos das tapadas, e descobrir fortuitamente algum coelho ou raposa. Ainda agora descortino e sinto as cores e os cheiros das giestas, piornos, urzes e tojos de então. Revejo as concorridas feiras de 25 de Julho, onde havia aguadeiras e vendedoras de fruta, e as animadas lutas de bois, onde se dirimia a esbeltez e a força rude dos animais.

Para usufruir do ambiente bonançoso das tardes de Primavera ou de Verão, foram várias as vezes que almocei junto a tapadas e de correntes de água, com refeições pré-cozinhadas em casa, onde o ritual de arranjar lenha, acender o lume e efectuar o apuramento da comida emprestavam mais sabor ao repasto.

A última vez que desci monte abaixo, após um pôr de sol, aconteceu num mês de Setembro. Resolvi vir a corta-mato até ao fundo do vale de Paus. A meio do percurso, a noite ficou escura como breu, não se vislumbrando nada à frente. O único recurso era acender um isqueiro de vez em quando para evitar muros e quedas em silvados. Chegado a um cruzeiro e perante a chama intermitente do isqueiro, uma voz ecoou do fundo de um dos quatro caminhos:”quem vai lá?”. Feitas as identificações, o meu interlocutor avançou a medo. Do frente-a-frente pude verificar o seu alívio por confirmar que estava perante um terráqueo conhecido.

Por tudo isto, por estas e outras memórias, sempre fui e serei um dos amigos de S. Cristóvão.

Actividades e projectos da AASC /Associação dos Amigos de S. Cristóvão

Com existência legal desde 26 de Novembro de 2004, esta associação tem como principal objectivo oferecer programas e actividades de convívio e promover iniciativas que tirem partido das potencialidades e dos recursos da encosta serrana e do património cultural e arqueológico da freguesia de Felgueiras.

Como actividades de convívio, organiza, ao longo do ano, jogos tradicionais e várias modalidades desportivas no campo de futebol local, que decorrem sobretudo nas tardes de domingos e nas férias. No último verão, promoveu um torneio de futebol de 5, a que será dada continuidade no próximo ano.

No âmbito de iniciativas de convívio, é seu propósito realizar um passeio/excursão anual a locais de interesse. Em 2007, levou a efeito uma visita a Fátima e Mafra e, em 2008, a selecção recaiu na serra da Estrela. Ainda na esfera convivial, organiza uma consoada de Natal.

Relativamente a eventos ligados à valorização da encosta serrana, promoveu, em 24 de Maio passado, o primeiro passeio em moto 4/2, que, embora com tempo muito chuvoso, teve uma grande adesão, tendo incluído muitos participantes provenientes de outros concelhos, o que serviu para divulgar a nossa terra e as suas potencialidades para a prática deste tipo de desporto. Devido ao êxito que obteve, a associação pretende integrar este evento na agenda do seu programa anual.

No quadro da divulgação do património cultural, mais concretamente dos usos e costumes agrícolas, faz parte dos projectos da associação desenvolver três recriações, a saber: uma vessada, uma ceifa de trigo e/ou centeio e uma cozedura de pão. Estas actividades pretendem dar a conhecer os rituais relacionados com o trabalho dos campos, incrementando o convívio entre gerações e a ocupação de tempos livres e de férias para residentes e emigrantes

A grande aposta, tendo em conta as características, a beleza e a diversidade paisagística, a fauna, a flora e o património arqueológico da encosta e do planalto do Montemuro, centrar-se-á na organização de percursos pedestres. A prática desportiva, a sensibilização ambiental e o contacto com as raízes e a herança do passado são objectivos que podem ser simultaneamente alcançados. É intenção da associação concretizar quatro percursos anuais, correspondendo a cada uma das estações do ano, podendo haver alterações aos traçados dos mesmos e/ou conteúdos temáticos a explorar (lendas, moinhos, canastros, artefactos, fornos, etc.).

Primeiro percurso pedestre

No passado dia 4, realizou-se o primeiro percurso pedestre com base num itinerário previamente estudado e testado. Teve início na sede da APROLIF (Associação Pró-Linho de Felgueiras) e contemplou a passagem pela aldeia, a visita de canastros, a observação da actual igreja matriz e informação dos respectivos antecedentes históricos, a subida pelo trilho de carro de vacas até ao miradouro junto do lugar de Corva, onde os caminhantes foram obsequiados com um lauto farnel, a travessia a corta-mato até à estrada municipal, nova subida até ao penedo Quelhoso, que muitos teimaram em subir, e caminhada final até à capela de S. Cristóvão.

O percurso pedestre, que contou com 43 participantes, entre os quais o Sr. Vice-Presidente da Câmara, Silvano Moura, teve início às 09h45 e terminou às 13h15, tendo sido andados cerca de 6 quilómetros. Efectuaram-se várias paragens para elucidações acerca da fauna e flora, fornecidas pelo biólogo de serviço (Dr. Albano Soares) , e do património cultural e arqueológico, cujas explicações estiveram a cargo do Eng. Jorge Oliveira. E registaram-se várias surpresas. A primeira foi a recriação do junguer das vacas e do atrelar do carro, tendo os presentes tido a possibilidade de assistir à colocação das molhelhas, ao assentar do jugo e ao amarrar das sogas. Puderam ainda percorrer parte da aldeia em cima deste meio de transporte e conduzir a respectiva junta de vacas. Também foi dada a oportunidade de assistir à luta e marradas de dois carneiros.

O percurso terminou, num clima de grande satisfação, com um almoço/convívio num dos restaurantes da Gralheira, ao qual se associou a Prof. Dulce Pereira, Vereadora da Câmara de Resende. À despedida, foi oferecido um CD com todas as informações do itinerário e dos locais visitados.

Aprender caminhando

Nesta caminhada aprendeu-se muito acerca de Felgueiras e Montemuro. Logo no início, as pessoas ficaram a saber da existência da APROLIF, uma associação que teve agregada a si uma empresa de inserção social, actualmente desactivada, por onde passaram cerca de 60 trabalhadore(a)s, tendo ainda em stock e para venda muitos artigos de linho (colchas, tapetes, toalhas de mesa, etc.). Já em plena encosta serrana, pudemos ver uma borboleta nocturna, uma borboleta azul (plebejus argus), um louva-a-deus (manthis religiosa) e uma rela/rã (hyla arbórea). Por sua vez, as plantas que mais nos chamaram a atenção foram a orquídea, a arménia e o merendeiro.

A algumas dezenas de metros da capela de S. Cristóvão, pudemos ver o “observatório astronómico” pré/proto-histórico, com mais de quatro mil anos, constituído por quarenta monólitos erectos e alinhados, que permitiam ajudar os nossos antepassados a determinar os períodos em que ocorriam os equinócios e solstícios. E nos terrenos envolventes do local onde se realiza a feira anual, contactámos com uma das cinco mamoas já identificadas, assim designadas por serem antas encobertas por terra, apresentando uma forma arredondada. E, quase a finalizar, observámos a ara sacrificial, um penedo que os povos primitivos pagãos utilizavam para matar animais em honra das suas divindades. A caminhada terminou com uma visita ao interior da capela, que foi pretexto para a direcção da AASC manifestar a sua disponibilidade para colaborar em manter este espaço e estrutura de apoio abertos ao público nos fins de semana do próximo Verão.

Perguntas e Respostas

Quem são os elementos que constituem os órgãos sociais da AASC?

Direcção: Nuno Filipe Almeida Pereira, motorista de transportes colectivos (presidente), Rui Manuel R. Rocha, empresário (secretário), José Fernando Matos Talhada, carpinteiro (tesoureiro) e Nelson Duarte Proença, empresário (1.º vogal); Assembleia Geral: José Carvalho da Silva, empresário (presidente), Alberto António B. Pereira, carpinteiro (1.º secretário) e Vítor Gabriel D. Pereira (2.º secretário); Conselho Fiscal: Humberto Eduardo C. Silva, médico dentista (presidente), Manuel Almeida M. Talhada, empresário (relator) e Albino Rodrigues Rocha, reformado (vogal)

Tem sede própria?

Não. As reuniões são efectuadas rotativamente em casa dos membros dos órgãos sociais.

A associação presta apoio a quem desejar visitar e fazer percursos pedestres na zona de Felgueiras?

Sim. A associação está preparada para responder a pessoas e grupos que desejem conhecer os diversos locais de interesse da freguesia e da encosta serrana, disponibilizando documentação para os visitantes e prestando apoio logístico e dois monitores para caminhadas.

Contacto com a AASC:

Telefones: 914 208 394 e 936 631 753; e-mail: presidente.nuno@aasc.pt; site: http://www.aasc.pt

*Apontamento de minha autoria, escrito para o Jornal de Resende (número de Outubro de 2008)

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