domingo, 29 de novembro de 2009

Casa do Concelho de Resende em Sintra organizou magusto*

Nota Pessoal

Por não conhecer ninguém da Casa de Resende aquando da minha deslocação a Sintra, em Junho passado, por ocasião da festa da cereja, tive de me servir de um exemplar do Jornal de Resende, segurado numa das mãos, como elemento de identificação a quem me foi buscar à estação de Portela de Sintra. Apesar disso, tal como agora, tive um acolhimento excepcional e um acompanhamento sempre caloroso por parte dos nossos conterrâneos. À despedida, em Junho, o presidente da direcção, Joaquim Alves Pinto, lançou-me o repto: “venha conviver connosco no próximo magusto; fica combinado”. Não podia declinar o convite.

Valeu a pena. Entre conterrâneos, moldados pelas mesmas raízes, configurações geográficas e elos de vizinhança e em cujos veios corre o mesmo “património”, foi deveras gratificante este dia de convívio.

Importa incrementar as relações da Câmara Municipal, das quinze Juntas de Freguesia e das várias associações concelhias com os resendenses da diáspora. A percepção que estes têm daquelas instituições relativamente ao seu grau de envolvimento para com aqueles que vivem e trabalham longe é de apatia e de distanciamento. A vinda frequente dos nossos conterrâneos à terra de origem, seleccionando-a como destino em datas significativas, em férias e até para usufruir da reforma, poderá representar um grande contributo para a animação e uma mais valia para o comércio e restauração. O que pressupõe que Resende se constitua e permaneça local de eleição, para além dos apelos de sangue que se vão eventualmente desvanecendo.


Dia de convívio

Centro e trinta resendenses, familiares e amigos participaram, no passado dia 8, domingo, no convívio com magusto, organizado pela Casa do Concelho de Resende em Sintra, que teve lugar na sede do Sporting Clube de Lourel, próximo da vila de Sintra. No sábado, foram confeccionados os bolos com artes e receitas herdadas e testadas em Resende. No domingo, logo de manhãzinha, começou a azáfama de preparação e confecção para o almoço, com vários voluntários em torno de panelas e outros utensílios e em tarefas de enfeite das mesas. Os participantes/comensais começaram a chegar a partir das 12h00, deparando-se logo à entrada com o projecto da futura sede, onde Manuel Admar Rosário ia explicando os espaços e valências previstas. Mais à frente estavam elementos da direcção a fazer o acolhimento, sendo depois encaminhados para o salão, onde os nossos conterrâneos iam pondo a conversa em dia. Às 13h00, deu-se início ao repasto. Esperava-nos uma entrada com broa e rodelas de chouriça, salpicão e presunto da nossa região, sopa de legumes, rojões com batata cozida e arroz, acompanhados com vinho de Anreade e sobremesa (composta de fruta, bolos e arroz doce) e café.

A seguir à refeição, durante a tarde, foi disponibilizada música apropriada por um animador de serviço para quem desejasse dar um pé de dança (e foram muitos). Cá fora, três voluntários tomavam conta das castanhas que iam sendo colocadas sobre um braseiro de dois assadores que, em lume brando, as iam tostando lentamente. Pelas 17h00, foram levadas para o salão, tendo sido devidamente saboreadas com jeropiga e água-pé até às tantas.


Castanhas: memórias e sabores

As castanhas foram alimento e pão das noites frias e dos serões das nossas aldeias e cúmplices de longas conversas à lareira. Impuseram o seu condão agregador e convivial em magustos entre os dias de Todos os Santos e S. Martinho, como herdeiros da celebração da abundância das colheitas, sobretudo do vinho. Aconchegando o estômago de ricos e pobres e aquecendo espíritos e corpos, são o melhor condimento para festejar a grandeza do gesto de quem foi capaz de repartir o seu próprio manto.

Todos adivinharam a origem das castanhas deste magusto. Vieram de Resende. De um souto antigo. Tal como outrora, apresentavam as mesmas texturas e formas, exalavam os mesmos cheiros, evidenciavam os mesmos sabores. Foram pretexto para os mais velhos recordarem o varejo dos castanheiros temporãos, a brita dos ouriços, o percurso diário da apanha pelos soutos e os carregos às costas pelas encostas do concelho. Muitos dos presentes tiveram de conciliar a apanha das castanhas com a frequência e deveres escolares, em contraste com os mais abastados que podiam contar com a colaboração das gentes (moças) da serra do Montemuro, em troca de alojamento frugal, parcas refeições e uma saca final de castanhas. Um dos presentes contou que, mandado ao souto em semana de invernia, resolveu desenvencilhar-se da situação enchendo a cesta durante três dias com castanhas anteriormente apanhadas e depositadas numa loja, o que lhe valeu uma sova quando os pais descobriram que a meda não crescia.

Este magusto foi mais um encontro com o presente e uma viagem por outros outonos e invernos. Douradas por dentro e escuras por fora, “quentes e boas”, os presentes foram sendo surpreendidos pelas diferenças oscilantes de sabores mais ou menos consistentes, quase farinhentos e ligeiramente agridoces, o que levava compulsivamente a provar ainda mais uma. A que souberam ainda estas castanhas assadas? A algo de muito diferente daquelas que são consumidas ritualmente a troco de uma moeda e entregues num cartucho, que nas cidades vão aquecendo as mãos e desprendendo fragrâncias na visita a montras, nas idas apressadas para casa, nas esperas do transporte ou acompanhando tensões de fim de dia ou emoções nas saídas de futebol. As deste magusto souberam ao cheiro da terra, às encostas de Resende, à nossa pregnância distintiva. À têmpera e perenidade dos castanheiros que marcam a nossa génese e paisagem.


Construção da sede da Casa do Concelho de Resende e papel de Manuel Rosário

Este convívio/magusto serviu para fazer o ponto da situação sobre a construção da futura sede da Casa do Concelho de Resende. A aprovação do respectivo projecto de arquitectura estará para breve, prevendo-se para a próxima Primavera o início da respectiva construção. Convém relembrar que a cedência de terreno para o efeito pela Câmara Municipal de Sintra aconteceu graças à intermediação e bons ofícios de Manuel Admar Rosário que, tal como a direcção e restantes órgãos sociais da Casa de Resende, tem colocado grande empenho na concretização deste sonho. Este nosso conterrâneo poderá ser considerado até um sócio benemérito desta associação de resendenses pela dedicação e pelas avultadas contribuições financeiras em prol da mesma. Convém referir que Manuel Rosário, nascido em 25-04-1944, em Santo Amaro de Anreade, é um empresário de sucesso na zona de Sintra, para onde veio com 17 anos. Começando por ser servente de trolha e carpintaria no concelho de Resende, criou várias empresas, designadamente nas áreas da construção de caixilharia de alumínio, transformação de vidro e bombas de gasolina, gerindo actualmente 6 empresas, com 70 trabalhadores, embora no passado já tivesse tido cerca de 200. Continua muito ligado a Anreade, onde possui duas pequenas quintas e onde se desloca com regularidade, contribuindo de forma generosa para algumas das instituições/associações do concelho de Resende.

A propósito da construção da sede, quem quiser colaborar poderá depositar o respectivo donativo na Caixa Geral de Depósitos (NIB: 003507860006276693048).


Próximos eventos

No próximo dia 6 de Dezembro, decorrerá a Festa de Natal, que incluirá um almoço, actuação do Grupo Coral da Casa do Concelho de Resende, distribuição de prendas às crianças, actuação de palhaços e lanche, podendo as inscrições ser efectuadas para os seguintes telefones: 967 069 271 e 219 235 234. Está também prevista uma festa na passagem de ano, que incluirá música com baile, intervalada por caldo verde, cacau quente, bolo-rei e champanhe. A época natalícia terminará com o cantar dos reis pelo Grupo Coral, no dia 6 de Janeiro, na Câmara Municipal de Sintra.


Endereço

Casa do Concelho de Resende

Estrada Nacional N.º 9 ao Km 17 – RAL – 2710 Sintra

Telef. 219 233 214 Fax: 219 235 369

Apontamento escrito por Marinho Borges e publicado no número de Novembro de 2009 do Jornal de Resende

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