terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Quinta da Massôrra*

Rui Cardoso nasceu e viveu no Porto até terminar o ensino secundário. Nos fins de semana e nas férias, acompanhou vezes sem conta o seu pai à Quinta da Massôrra. Já formado, casado, com uma carreira profissional promissora, e com um filho, tudo fazia prever que a sua vida iria ter como epicentro o Porto. Mas o apelo do casal por um novo estilo de vida foi decisivo, tendo-se mudado para a Quinta da Massôrra há dez anos, onde se encontra a implementar um projecto no sector agro-turístico.


Nota pessoal

Dois outdoors com convite a uma visita à quinta e uma oportunidade de aquisição de vinhos e produtos regionais impeliram-nos a entrar. Foi nas férias de Verão de há oito anos. Uma senhora jovem recebeu-nos com uma cortesia excepcional. Os meus filhos, então com 16, 12 e 8 anos, ficaram encantados com a experiência. Puderam brincar descontraidamente no largo, frente à casa e à capela, ver as vinhas e apanhar peras que então se apresentavam deliciosas, tendo a anfitriã feito questão de as oferecer. Como estávamos em fim de férias, trouxemos uma cesta cheia para Coimbra.

Passámos pela loja de produtos regionais, onde adquirimos algumas garrafas de vinho da quinta, embalagens de compotas e de cereja em vinagrete. Pudemos apreciar a grande variedade de artigos de artesanato expostos, entre os quais, panelas de barro, feitas em Fazamões, rendas e bordados, cestas de vime, chapéus de palha, uma grande variedade de embalagens de compotas e muitas garrafas de vinho do Porto.

Pudemos visitar ainda o lagar tradicional e a adega, tendo sido dada uma breve explicação sobre o modo como se processa a vindima na quinta, a produção e a armazenagem do vinho.

Com o portão geralmente aberto, num renovado convite a uma visita, essa tarde ficou como exemplo de bem receber, que não pode deixar de ser recordada sempre que os olhares se cruzam com a Quinta da Massôrra.


Breve resenha histórica

Sabe-se que na Casa, dotada de capela privativa dedicada ao Espírito Santo, viveu a família Coelho de Macedo e que Abel Coelho de Macedo, tendo vivido na Casa do Choupal com a esposa D. Leonor Pinto Cochofel em finais do século dezanove, foi descendente e proprietário. Após a sua morte, os seus herdeiros venderam a Casa a um senhor de nome Gastão, de Resende, o qual, por sua vez a vendeu ao Eng. Carlos Bento Freire de Andrade, Director das Minas de Ouro e Diamantes de Angola, que residia no Estoril. Tudo indica que este senhor tinha ascendentes em S. João de Fontoura, alguns dos quais muito provavelmente teriam sido donos da Quinta da Massôrra.

Por sua vez, o referido Eng. Freire de Andrade vendeu esta propriedade a José Botelho dos Santos, pai do actual proprietário, Prof. Doutor Valdemar Miguel Botelho dos Santos Cardoso, ilustre cirurgião (que atendeu e encaminhou para hospitais muitos doentes da freguesia e do concelho, sendo, por isso, muito acarinhado pela população) e professor jubilado da Faculdade de Medicina do Porto, que aqui, como sempre fez, continua a passar sempre que pode os seus fins de semana.


Um novo projecta com Anabela e Rui Cardoso

Rui Cardoso, um dos cinco filhos do actual proprietário, licenciou-se em agronomia pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, tendo tirado um mestrado em Inglaterra na área de marketing agro-alimentar, incentivado pelo Doutor Bianchi de Aguiar. Como, entretanto, este Professor foi nomeado Presidente do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto, Rui Cardoso veio a integrar a sua equipa, tendo ficado como Director do Departamento de Marketing desta instituição durante 8 anos. Estas funções implicavam viagens constantes, o que fazia com que dedicasse pouco tempo à família. Após o nascimento do primeiro filho, o casal entendeu que era chegado o momento de refazer o percurso de vida, de forma a terem a possibilidade de viverem mais próximos.

Tendo em conta a formação e experiência profissional de Rui Cardoso, o casal resolveu há dez anos apostar num projecto empresarial para a Quinta da Massôrra, fixando-se aqui com o filho, que, entretanto, ganhou dois irmãos.


Áreas do negócio

O projecto privilegia duas componentes: desenvolvimento de uma área agro-turística e produção, transformação e comercialização de produtos agrícolas e agro-alimentares (essencialmente vinho e cereja).

A Anabela, licenciada em economia, embora continue a desempenhar as mesmas funções profissionais na mesma empresa do Porto através de teletrabalho, dá um grande contributo ao sector agro-turístico, recebendo e acompanhando os visitantes pela quinta, loja de comercialização de vinhos e produtos regionais e adega e preparando, de acordo com as solicitações, vários programas e eventos.

O casal adquiriu, entretanto, próximo da Casa da Massôrra, uma outra propriedade, a Quinta das Cancelas, o que permitiu aumentar a área da produção de vinho e de fruta. Refira-se que nestas propriedades procura-se utilizar processos amigos do ambiente, evitando-se sempre que possível produtos químicos.


Aposta na produção e comercialização de vinho

Desde o início que o Eng. Rui Viseu Cardoso tem apostado na produção de vinhos, trabalhando com Rui Cunha, um enólogo com provas dadas. Várias colheitas mereceram críticas elogiosas de provadores e de revistas da especialidade, tendo sido mesmo objecto de prémios pela relação qualidade/ preço. A meta é atingir anualmente a produção de 10.000 garrafas. Presentemente, disponibiliza quatro tipos de vinhos com características específicas, respondendo aos vários gostos, ocasiões e públicos. Os relativos a 2007 estão praticamente esgotados.

Eis as características relevantes dos quatro vinhos: i) Qta da Massôrra Colheita Seleccionada tinto 2007. Foi produzido a partir das castas Tinta Roriz, Touriga Nacional e Sousão. A fermentação decorreu em lagares tradicionais de granito com pisa a pé. Estagiou posteriormente em cascos novos de carvalho americano e francês; ii) Qta da Massôrra Colheita Seleccionada branco 2007. Foi produzido quase exclusivamente a partir da casta Arinto. A fermentação decorreu em cascos de carvalho francês e húngaro, onde estagiou durante 8 meses; iii) Encostas de S. João tinto 2007. Foi produzido a partir das castas Tinta Roriz e Touriga Nacional. A fermentação decorreu em lagares tradicionais de granito com pisa a pé. Estagiou posteriormente em cascos de carvalho francês; iv) Encostas de S. João branco 2007. Foi produzido quase exclusivamente a partir da casta Arinto. Após o desengace e esmagamento das uvas, a fermentação decorreu em cubas de inox com controlo de temperatura.

Cerca de 65% das garrafas são vendidas directamente na quinta ou através de pedidos feitos por telefone ou e-mail, que chegam aos respectivos destinos (no país ou estrangeiro) através de duas transportadoras com as quais a casa tem acordo.

Contactos


Quinta da Massôrra

S. João de Fontoura

4660-333 Resende telef. 254 871 578; telm. 965 053 820; fax 254 871 617 e e-mail: ruiviseucardoso@mail.telepac.pt

*Artigo de minha autoria, publicado no Jornal de Resende (número de Agosto de 2009)

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