quarta-feira, 3 de março de 2010

Associação de Caçadores das Quelhas organizou mais uma montaria*

O que é uma montaria?
Na caça de montaria os caçadores aguardam, em local previamente definido, para capturar os respectivos animais, designadamente javalis e veados, levantados e perseguidos por matilhas (de cães) devidamente treinados. A sua organização pressupõe o estudo prévio da área (mancha), que deverá ser soalheira (virada a sul), porque os animais são sensíveis à temperatura e à chuva, e ser constituída por vegetação preferencialmente espessa e densa, já que a mesma oferece condições de abrigo e protecção aos possíveis alvos a abater. Importa encontrar terrenos onde se encontrem indícios de que aí descansam e encamam as respectivas reses. A partir deste levantamento, convém que os organizadores mantenham a área no maior sossego, fazendo aí chegar comida.
Escolhida a mancha é definida a localização das diferentes portas por onde irão ser distribuídas os caçadores/monteiros. O seu número irá depender da área abrangida. Em regra, é habitual distanciar os postos entre os 50 e 100 metros uns dos outros, devendo ter-se em conta os desníveis do terreno e os acidentes naturais. Acima de tudo, importa acautelar a segurança, que implica condições de visibilidade do camarada do lado, que poderá estar na mesma linha de tiro.
Neste processo de caça, a acção das matilhas é fundamental para que os javalis avancem no terreno, propiciando aos caçadores fazer o gosto ao gatilho. Cada matilha é constituída por cerca de 25 cães, estando o número de matilhas dependente das características do terreno e da densidade e altura da vegetação, exigindo-se um número menor quando a mancha é plana e o coberto vegetal menos denso.
O fim da montaria é anunciado normalmente pelo lançamento de um foguete. Por sua vez, a sinalização das reses abatidas é feita pelos postores (caçadores/pessoal encarregado de conduzir os monteiros às respectivas portas de cada armada e efectuar no fim a recolha dos mesmos). Estes colaboram com os caçadores na colocação das reses perto de um caminho ou aceiro, para que possam ser carregados por veículos até ao destino. A montaria termina com o almoço convívio e leilão dos animais abatidos.

A última montaria a par e passo
As pré-inscrições, que ocorreram nas semanas anteriores, andaram à volta de uma centena de interessados, o que permitiu estabelecer uma mancha de território adequada para o efeito e oferecer um número de portas correspondentes à procura. A área seleccionada, onde costumam abundar bastantes javalis, estendeu-se pelas encostas de Fazamões, Origo, Forjães, Pena, Moumiz e Barraca. As inscrições começaram por volta das 08h00 na sede da associação e terminaram às 09h45, tendo atingido o número recorde de 112. Entretanto, em pequenos grupos, no local onde em tempos brincaram tantas crianças da escola, recordavam-se façanhas de caçadas passadas e projectavam-se estratégias para a montaria que se aproximava, à volta das brasas dos grelhadores, onde se iriam aprontar as carnes para o taco (refeição da manhã). O repasto, abundante e variado, adequado para responder aos esforços das lides “guerreiras”, teve início às 10h00, tendo-se prolongado até às 10h45. Pouco depois, teve início uma palestra no largo do antigo recreio da escola, onde foi apresentado o Director da Montaria, Eng. José Miguel Maia, que saudou os participantes, e na qual também o Prof. Adérito Lopes relembrou os cuidados a ter e as medidas de segurança a observar durante a caçada. Seguidamente, foi apresentado o resultado do sorteio das portas, cujos números estavam previamente distribuídos e agrupados por treze armadas, tendo sido apresentados os respectivos responsáveis/postores. A estes foram disponibilizados dois cartazes, onde estavam inscritos o número da armada e os números das portas, para serem colocados à frente e atrás da sua viatura, a fim de que a mesma pudesse ser facilmente identificada e seguida pelos elementos da armada na deslocação para a respectiva mancha. Depois de resolvida a questão do transporte e do número de viaturas necessárias, as armadas saíram de Barrô quando o relógio marcava 11h30. Uma hora depois, todos os participantes estavam devidamente instalados nas respectivas manchas, iniciando-se a batida pelas sete matilhas, cujos efeitos se fizeram sentir pouco depois com os primeiros tiros a troarem pelo vale.
Integrei, como espectador, a armada do presidente da associação organizadora, Arlindo Manuel Pinto, que após ter deixado os respectivos monteiros nas portas que lhes couberam em sorte na zona de Fazamões, teve a amabilidade de me transportar até junto da Barraca, para me deixar na porta do Prof. Adérito Lopes, onde, à semelhança do ocorrido em anos anteriores, iriam desembocar quase de certeza vários javalis. Ouviram-se de facto muitos tiros. À nossa frente passaram os cães em batida. O Prof. Adérito chamou-me a atenção para um grande javali que passava nos montes por cima de Fazamões, mas junto a nós não passou nenhum. À medida que os tiros se iam ouvindo, ia fazendo previsões do resultado das operações, apontando para o abate de oito a dez reses. O seu telemóvel não parava de tocar, funcionando como uma verdadeiro terminal de notícias. Por volta das 15h30, estava terminada a montaria.
Regressei na viatura de Arlindo Pinto, que denunciava optimismo e boas perspectivas quanto aos resultados da caçada. O seu telemóvel não parava de tocar. E cada chamada aumentava a torrente do seu entusiasmo. Parámos abaixo do monte de S. Cristóvão, pois tornava-se necessário verificar a situação de um javali aparentemente ferido ali por aquelas bandas. Ainda foram chamadas duas matilhas, mas nada foi detectado. Prosseguimos viagem, recolhendo junto de Fazamões os elementos da armada. Chegados à sede da associação, constatámos que já lá se encontravam as reses abatidas, em número de nove. Mas, pelas conversas que se iam desenrolando, foram vistas cerca de uma vintena.
Pelas 18h00, teve lugar uma refeição retemperadora, onde se contaram as peripécias da caçada e se deu largas ao convívio. No final, já no exterior, teve lugar o leilão dos nove javalis ali expostos, cujos preços oscilaram entre os 120 e os 225 euros. Seguiu-se ainda o sorteio, numa oferta de uma firma especializada em artigos de caça, de vários vales de desconto e roupa de caçador. O fim deste convívio terminou já depois das 20h00.
Endereço uma palavra de agradecimento ao presidente da direcção da Associação de Caçadores das Quelhas pela oportunidade que me deu de acompanhar este evento, que trouxe ao nosso concelho caçadores de Lamego, Castro Daire, Cinfães, Régua, Gondomar, Alfena e de outros municípios do Grande Porto. Refira-se que a montaria contou com o apoio, além dos Bombeiros Voluntários de Resende, da Câmara Municipal de Resende e das Juntas de Freguesia de Barrô, Penajóia, Samodães, S. Martinho de Mouros, S. João de Fontoura e Paus. Parabéns à organização pelo modo como tudo foi delineado, o que permitiu uma grande caçada e uma inesquecível jornada de convívio.

Endereço
Associação de Caçadores das Quelhas
Lugar do Crucial/Barrô 4660 – 037 Resende Telef. 918 775 302 e 939 320 734
*Notícia elaborada por Marinho Borges e cuja 2.ª parte (com o sub-título A última montaria a par e passo) foi publicada no Jornal de Resende (número de Fevereiro de 2010)

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