Não é também verdade que o Pe.
Diogo roubasse um Feliciano Monteiro, do Vale, vulgo o Feliciano. Eu, seu
vizinho, sei que o Pe. Diogo comprou ao Feliciano um prédio, que justou por cem
mil réis; que, tendo o vendedor recebido quase todo o preço da venda, se
recusou a fazer o título sem que o Pe. Diogo lhe desse 30:000 réis a mais; e
que finalmente concordaram que o Pe. Diogo lhe desse 15:000 réis. Fez-se o
documento, e o Pe. Diogo deu ao vendedor, além dos cem mil réis por que ajustaram, mais
15:000 réis, do que são testemunhas o Sr. Comendador Filipe José Rodrigues,
José Rodrigues, da Eira-Velha. Não admira que o Feliciano calunie o Pe. Diogo,
quem o conhece. Ouvi um trecho de sua vida. Um dia este Feliciano, ainda moço, sofreu das
mãos de seu pai um castigo, e o filho protestou vingar-se do pai, e assim fez.
Tinha o pai uma horta a partir
com outra, pertencente ao Pe. António Pedro dos Santos, então Cura da
freguesia, e o filho numa noite cortou todos os arbustos na horta do Padre,
lembrando-se que este culpava no corte das árvores o seu pai, como culpou. Este
Feliciano, que estando casado, possuía bastantes terrenos e ganhava pelo ofício
de oleiro muito dinheiro, não fez caso de sua mãe e esta seria vítima da fome,
se lhe não valesse outro filho. Nunca deu uma fatia de pão a um filho, que teve
de uma mulher solteira, e vendeu seus terrenos para os não herdar uma filha,
que tem legítima e muito pobre e com muitos filhos. Logo não é assombroso que
um homenzinho assim levante uma calúnia a um inocente, mas é admirável que eu,
que conheço este demónio, e sei que o Pe. Diogo o não roubou, o certifique ao
público.
Pouco me resta para dizer por
esta vez. Antes, porém, que termine,
digo e direi sempre que o Padre Diogo, que como homem há-de ter defeitos, como sacerdote
imperfeições e como professor faltas, não é nem foi ladrão nem matador; logo,
comparando-o nós no princípio dos nossos terceiros panfletos, cuja matéria é a
mesma dos outros, com o tigre, o leão, o leopardo e a pantera, mostrámos que
não temos ideia da história natural. Eu nunca a estudei, verdade e verdade.
Cumpre-me também confessar que a loja, que me elegeu seu chefe nos papelitos a
que me referi, diz que eu fui o mestre de todos os Padres de Paus, e que me não
falta o invejável predicado de caritativo. Acharíeis estas expressões num
estilo inchado? São estas verdades puras.
*Transcrição do manuscrito "O abbade de Barrô e sua segunda confissão", datado de 25 de Novembro de 1889, procedendo-se apenas à actualização gráfica e a pequenas alterações, designadamente sinais de pontuação.